Estamos diante de uma onda de startups e scale-ups voltadas à biotecnologia (biotechs), negócios que desenvolvem tecnologias de fronteira para endereçar desafios globais por meio de avanços científicos com materiais biológicos.
da biodiversidade global
novas espécies
catalogadas por ano
biomas
ecossistemas
marinhos
Maior produtor de
alimentos do mundo
Maior área de produção
agrícola no mundo
O maior sistema de saúde pública do mundo
dos pesquisadores LATAM
país com mais publicações em ciências biológicas e agro
das patentes
das pesquisas LATAM
A Endeavor analisou o ecossistema brasileiro de biotech utilizando o framework adotado nos 42 mercados em que atua, focando em três pilares: pessoa empreendedora, negócio e timing. Traçamos um panorama com base em dados de 135 founders brasileiros de 95 biotechs, e entrevistas com 30 empreendedores, investidores e especialistas.
Fundada por Sérgio Pinto e Bibiana Matte em 2022, a Cellva é a primeira biotech brasileira a integrar uma incubadora europeia focada em tecnologias de ingredientes. A startup desenvolve ácidos graxos a partir de células cultivadas em biorreatores, com tecnologia 100% nacional.
Fundada por Luciano Bueno em 2019, a GALY utiliza técnicas avançadas de agricultura celular para cultivar algodão a partir de células vegetais em biorreatores. O GALY reduz os impactos ambientais das fibras naturais, como desmatamento e escassez de água.
Fundada pela geneticista e professora titular da USP, Lygia Pereira, a gen-t está coletando dados genéticos de todo o Brasil para criar o maior e mais diverso banco genético da América Latina, com o objetivo de impulsionar a medicina de precisão e melhorar a saúde pública no país.
A Nintx está na vanguarda do desenvolvimento de terapias para doenças multifatoriais. Fundada em 2021 por Miller Freitas, Cristiano Guimarães e Stephani Saverio, ela utiliza produtos naturais derivados de plantas para modular alvos biológicos de forma direta e indireta através da modulação do microbioma humano.
Fundada em 2020 por Rafael Bottós e Caio Leal, a Aptah Bio utiliza moléculas sintéticas racionalmente desenvolvidas que reprogramam o núcleo das células e possibilitam o tratamento de várias desordens com uma única terapia.Uma nova terapia, com foco em combater doenças relacionadas ao envelhecimento, como câncer e Alzheimer.
Fundada por Eduardo Sydney em 2019, a Mush, utiliza resíduos agroindustriais, como serragem e bagaço de cana, para criar materiais duráveis e biodegradáveis. Cada tonelada de material Mush absorve 1 tonelada de CO2. Os materiais se decompõem em apenas 28 dias, contra os 500 do plástico comum.
A convergência de múltiplos avanços em infraestrutura, big data, algoritmos, biologia e química tornam o século XXI o século da biotecnologia. Considerando o aumento da expectativa de vida do ser humano — uma tendência global, na qual estamos vivendo mais e com maior qualidade — é imprescindível continuarmos a investir em novas tecnologias para diagnósticos, terapias, descoberta de novos medicamentos, foodtech e agtech. Isso torna as biotechs um dos segmentos mais promissores para venture capital.”
— Guy Perelmuter, GRIDS Capital, Embaixador Endeavor
Um novo tratamento, molécula ou combustível tem aplicabilidade em qualquer lugar do mundo. Portanto, biotechs nascem globais e concorrem globalmente desde o primeiro dia direcionadas por problemas ainda sem solução.
A comprovação de teses complexas faz com que o estágio go-to market de uma biotech leve até 7 anos, dependendo do tipo de tecnologia desenvolvida. Dado seu alto risco, soluções incrementais não valem o investimento.
Biotechs atacam a raiz de desafios globais que já valem dezenas de bilhões de dólares – o Brasil começará a ter seus primeiros decacorns vindos da biotecnologia, e daqui sairão os primeiros prêmios Nobel do país.”
— Gabriel Bottós, Vesper Bio
Acesso facilitado à infraestrutura e laboratórios
Mindset global, que torna mais fácil convencer investidores
Credibilidade por atuar em mercados estabelecidos
Proteção da propriedade intelectual (IP), o ativo mais valioso de uma biotech
No setor de biotech, as empresas internacionais que mais se destacam são fundadas por ex-executivos com vasta experiência, um track record que os investidores observam atentamente, principalmente quando já tiveram sucesso na jornada anterior. O mesmo pode acontecer no Brasil. Aqui, há muito espaço para os fundos que já investem em ESG, nas frentes de agro e saúde, estarem mais próximos das biotechs”
— Miller Freitas e Cristiano Guimarães, Nintx
”Em uma empresa de software, você pode cometer erros, fazer uma versão beta de um app. Em biotech não tem versão beta, são riscos de saúde.
Um erro e isso pode ser fatal”
Sérgio Pinto,
“Empreendedores de segunda, terceira jornada são muito importantes em todas
as áreas de venture, e em biotech não poderia ser diferente. Mesmo quando suas ideias não vão adiante, os aprendizados
e as experiências fazem com que se tornem empreendedores ainda melhores.”
Guy Perelmuter,
“Ainda são poucos os investidores brasileiros especializados em biotech. Falta aos generalistas a experiência necessária para avaliar os projetos
e apoiar as empresas após
o investimento”
Gabriel Perez,
”Biotechs nascem globais, pois atuam em desafios globais. Por outro lado,
a concorrência também é global.
Para entender se a tecnologia é única,
é preciso olhar o que existe de melhor fora do Brasil”
Gabriel Bottós,
A ciência é uma arte. Não tem um progresso linear. Tem o discovery, o breakthrough, e um conjunto de meses e anos que fazem chegar naquele momento. Pode até gerar receita marginal no começo, 500 mil, 1 milhão, mas os founders de biotech devem mirar mesmo os 300, 500 milhões. É uma jornada do zero ao boom.”
— Luciano Bueno, founder GALY
A maioria das biotechs não vão durar mais que 5 anos se não saírem do angel investment ou dependerem de editais públicos. É necessário acessar infraestrutura, encontrar investidores internacionais, avançar com a tecnologia e se estruturar para crescer”
— Eduardo Emrich, Biominas
Não se programa software sem computador; não tem biotech sem laboratório. Um dos problemas é entender que o custo é muito alto para montar laboratório: 5, 10, 20 milhões.”
— Lucas Delgado, Emerge
Segundo levantamento da EY, o Brasil é o 9º país em número de biotechs fundadas, com cerca de 350 biotechs ativas, atrás dos Estados Unidos, França e Espanha, entre outros. Na América Latina, detém 60% das biotechs e 30% das deep techs, além de 60% do Venture Capital destinado a biotechs.
A tendência positiva do Brasil e da América Latina em geral é atribuída por ainda ser um ecossistema em expansão, com a maioria das empresas em estágio inicial e seed, menos impactadas por choques globais.
Porém, há desafios:
O ecossistema brasileiro soube explorar muito bem o modelo de startups digitais com foco no mercado local, mas ainda há um grande potencial inexplorado em áreas como biotecnologia e deep tech, que demandam maior inovação tecnológica e estratégias globais. Proporcionalmente, Chile e Argentina saíram na frente porque existem aceleradoras com foco nesses setores e os empreendedores precisam construir um negócio global desde o começo, devido ao tamanho reduzido dos mercados locais.
— Ignacio Peña, AIR Capital
O Brasil possui um grande potencial em qualquer mercado, devido à sua maior população e economia mais dinâmica. No entanto, olhando os três pilares essenciais para um ecossistema de biotech, ainda tem espaço para um mindset de mercado mais forte na comunidade científica e um ecossistema de VC robusto. Argentina e Chile levantaram incubadoras em Buenos Aires, Rosário e Santiago que fomentaram o desenvolvimento do ecossistema – o Brasil tem a oportunidade de investindo mais hubs científico-empresariais ”
Ainda falta paciência para nós brasileiros. Existe uma intolerância ao risco, que vem do desconhecimento natural devido ainda à escassez de teses no setor. Se alguém quer começar uma biotech e ficar 2, 3 anos, não recomendo empreender no segmento. Do lado do investidor, espere de 5 a 7 anos para ver o benefício do que começou a construir.”
Sérgio Pinto
Cellva
A cultura empreendedora de inovação está evoluindo nas grandes universidades. Todo pesquisador é, de certa forma, um empreendedor. Precisamos conseguir financiamento, ao invés do pitch para um VC, é para a FAPESP, temos que formar um time. Mas ainda há uma certa resistência. Quando fundei a Gen-T, ouvi de uma colega da universidade: ‘Agora resolveu ser empresária, que pena.'”
Lygia Pereira
gen-t
As mudanças no ambiente acadêmico são muito recentes – algo dos últimos 5 anos. Precisamos de mais pesquisadores que se provoquem a gerar negócios, além da publicação de artigos. Isso gera demanda para mais VCs e venture builders. O Chile, por exemplo, tem programas de incubadoras em Israel; Harvard e MIT já falavam sobre startups universitárias nos anos 90. O Brasil não ainda não tem isso”
Paulo Schor
FAPESP
Quando recebi um ex-orientador no laboratório, ele disse: ‘Você tem mais produtos físicos (não publicações) aqui em 4-5 anos de trabalho do que eu tenho em 30 anos de universidade.’ O acadêmico ainda foca muito em publicações, pouco na aplicação prática. Eu não quero produzir apenas fungos, quero criar um produto real que as pessoas usem e que impactem o seu dia-a-dia.”
Eduardo Sydney
Co-founder Mush, Muush e Typcal
Normalmente, biotechs são sub-financiadas pois desenvolvem tecnologias que necessitam de grande investimento e não conseguem fornecer garantias de contrapartidas necessárias, já que muitas delas não estão no padrão de maturidade institucional, como as MPEs tradicionais, que são exigidos pelas agências de fomento. Do outro lado, ainda temos visto um baixo engajamento das empresas tradicionais nos editais de inovação radical do governo. Com isso, o governo deverá olhar cada vez mais para novas modalidades de apoio às biotechs .”
Thiago Moraes
Ministério da Ciência e Tecnologia
Agradecemos às empreendedoras, empreendedores, investidores e especialistas da nossa rede e do ecossistema pelos insights na elaboração deste estudo:
Guy Perelmuter | Grids Capital
EMBAIXADOR ENDEAVOR
Lieven Cooreman | VLI Logística
EMBAIXADOR ENDEAVOR
Ignacio Peña | AIR Capital
INSIGHTS DONOR
Gabriel Perez | Pitanga
Francisco Salvatelli | GRIDx Exponential
Eduardo Emrich | Biominas
Isabella Allende | Biominas
Pablo Sola | EY
Rodrigo Iafelice | Solubio
Pavel Herman | Eurofarma Ventures
Carlos Zago | MKM Biotech
Gabriel Bottós | Vesper Bio
Rogério Vivaldi | Board Member Aptah Bio
Simona Nikolova | Endeavor Bulgária
Renato Ramalho | KPTL
Lucas Delgado | Emerge
Lívia Hallak | Oxygea
Claudio Costa Neto | Jeito
Rodrigo Rodrigues | Falconi
Manoj Patel | Courtyard Ventures
Paulo Emediato | Oxygea
Peter Turner | Breakthrough Energy Ventures
Luciano Bueno | GALY
Rafael de Souza | Symbiomics
Ricardo Di Lazzaro | NAIAD
Sergio Pinto | Cellva
Lygia Pereira | gen-t
Fernando Stegmann | gen-t
Eduardo Sydney | Mush, Muush, Typcal
Miller Freitas | Nintx
Cristiano Guimarães | Nintx
Thiago Moraes | Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
Paulo Schor | FAPESP